09 janeiro 2012

Entre filmes e livros #1

Sherlock Holmes

Todo mundo conhece ou já ouviu falar de Sherlock Holmes, o detetive inglês que era capaz de contar detalhes da vida de uma pessoa só de examiná-la detidamente por alguns minutos, tal era sua sagacidade e capacidade de dedução. Esse personagem da literatura, criado pelo médico inglês Arthur Conan Doyle (1859-1930), tornou-se tão famoso que muita gente pensa que ele era real. Os casos de Sherlock Holmes já viraram filmes, peças de teatro, livros e muito mais. Até o Jô Soares escreveu sobre ele no livro O Changô de Baker Street, em que faz uma paródia do detetive e de seu amigo e parceiro Dr. Watson. No “Enigma da Pirâmide”, da década de 80, Barry Levinson retrata essa mesma dupla quando eram ainda adolescentes, mostrando os primeiros interesses de Sherlock e os costumes que iriam mais tarde caracterizar sua personalidade adulta.

Agora é a vez do inglês Guy Ritchie mostrar no cinema o seu Sherlock Holmes. O filme estreou aqui em São Paulo nesta semana, no dia 08. Como super fã do intrigante detetive, eu estava lá no dia da estreia, no primeiro horário, para assistir ao filme. A expectativa era grande, e também o medo. Medo de que o personagem não correspondesse à imagem que eu guardava dele na imaginação, desde os tempos de adolescente, quando eu devorava as histórias do Sherlock Holmes. O filme surpreende, sem dúvida, e vou contar por quê.



Surpreende porque a aparência física do Holmes está mudada: aquele chapéu xadrez, de abas baixas, enfiado na cabeça, deu lugar a um chapéu preto, de copa mais alta, que compõe um visual mais bem adaptado aos gostos atuais (aquele primeiro seria ridículo mesmo). Surpreende, também, ao mostrar um Holmes pugilista e bom de briga, e não só ele, como também o Dr. Watson, fato que não se percebe nos livros. Passado o primeiro impacto (o primeiro susto, que foi rápido), observa-se que o Sherlock que estava ali só era diferente na aparência, a alma era a mesma. Estava ali o mesmo homem obcecado por casos misteriosos, os quais procurava desvendar custasse o que custasse, mesmo sabendo que a polícia ficaria com os louros da vitória. O que importava mesmo era sua satisfação pessoal por conseguir desvendar mistérios que ninguém conseguia. Estava ali, também, uma característica muito cara aos ingleses: o orgulho. Holmes é orgulhoso, só aceita os casos que quer, não se deixa atrair pelo dinheiro nem pela posição social de ninguém. Outros traços da personalidade de Holmes que foram muito bem captados e mostrados no filme, são, por exemplo, sua paixão por experiências com substâncias químicas (ele de fato era um alquimista que trabalhava no laboratório de um hospital no começo de sua carreira de detetive, no conto “Um estudo em vermelho”); sua tendência à depressão (ocasiões em que não queria falar com ninguém); sua hiperatividade (quando não estava entorpecido pela cocaína).

Quanto ao Holmes bom de briga, a surpresa vem pelo fato de que, nas histórias, Holmes geralmente resolve seus enigmas com o uso do raciocínio e de truques (ele era ótimo nos disfarces, mudava a expressão, o jeito, tudo), não na luta corporal. Mas essa qualidade que foi acrescentada ao Holmes, o Guy Ritchie não tirou do nada. Holmes, além de ter o hobby do violino, que ele gostava de tocar, gostava também de boxe e esgrima. Guy apenas fez seu Sherlock pôr em prática algumas habilidades que já possuía e não eram exploradas. O mesmo se pode dizer em relação ao (teoricamente) pacato Dr. Watson: ele tinha servido à marinha britânica e tinha passado seus maus bocados em serviço. É de se acreditar que ele não fosse nenhum tonto e soubesse bem se virar na hora do aperto, inclusive, nas confusões em que Holmes o metia.

Uma grande tacada do diretor do filme, essa sim, uma ótima surpresa, foi dar maior expressão à personagem feminina, Irene Adler. Aqui, mais do que em qualquer parte, Guy Ritchie torna reais traços apenas esboçados ou insinuados pelo criador de Sherlock. Irene Adler é a única mulher que atraiu a atenção e a admiração de Sherlock Holmes, que só se refere a ela como “a mulher”. Na história “As cinco sementes de laranja”, Holmes conta que foi vencido apenas quatro vezes em sua vida: três, por homens, e uma vez, por uma mulher: Irene Adler.

Não só as caracterizações de personagens estão bem realizadas, mas também o cenário: uma Londres sombria, misteriosa, adequada para a narrativa baseada em feitiçaria e magia que o filme apresenta. Aliás, essa temática também é bem apropriada: os casos que chegavam até Holmes eram aqueles que a polícia não se interessava por investigar ‒ como este, que envolvia o sobrenatural ‒ ou aqueles que constituíam altos segredos pessoais ou de Estado.

Vale lembrar, ainda, que as performances dos atores estão ótimas, O Robert Downey Jr. faz o perfeito Sherlock “loco”, desleixado (fato exagerado no filme para dar o toque de humor), que se entupia de drogas e de fumo, solitário, que falava pouco (a única queixa de Watson no filme em relação a Holmes é que ele não fala sobre suas intenções), metido o tempo todo em seu quarto com suas investigações, suas experiências químicas e seus jornais. O Dr. Watson, único amigo de Holmes, vivido por Judy Law (que está um gato!), ganhou participação maior na história, o que representou um ganho no quesito do charme e da ação.

Para não me alongar demais, pois esse assunto me empolga muito, vou apenas falar da questão das cenas de pancadaria do filme. Na verdade, elas entrariam no lugar dos raciocínios e dos processos investigativos de Sherlock, que talvez ficassem muito aborrecidos para o público de hoje. E o filme foi concebido para encher o cinema, tem a mesma vocação de alcançar o público comum, como acontecia com o livro. E, como os gostos mudaram, é natural que a narrativa do cinema acompanhe essa mudança.

Para finalizar, não posso deixar de mencionar um venenozinho que o Guy Ritchie inoculou no filme. Quem não percebeu que em certas cenas ele insinua que Holmes tem uma “consideração” por Watson que vai além da amizade? Isso eu garanto que não tem no livro não… Mas, digamos que ele buscou dar expressão a um traço intimamente oculto, secreto, jamais evidenciado pelo criador, mas “possível”, na leitura do cineasta. A arte tem suas licenças. Em resumo, o filme não decepciona, agrada, pois embora em estilo atualizado, mantém a essência original dos personagens, que é o que sempre garantiu o charme das histórias de Sherlock Holmes.
O filme Sherlock Holmes estreia dia 13/01

E ai? O que acharam da coluna?




Créditos:  Flanâncias

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